Cubanos e o programa + Médicos

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Médicos cubanos sendo recepcionados pelo Gov. Federal.
Imagem de Matheus Brito/Estadão Conteúdo – Fonte: Veja

Primeiramente gostaria de dizer que respeito muito os médicos cubanos. Até hoje só ouvi elogios sobre o trabalho deles, como são dedicados em exercer a medicina.

Desde quando começaram a divulgar esse programa, o + Médicos, sempre achei que a ideia de contratar médicos estrangeiros deveria seguir as regras do CFM, Conselho Federal de Medicina,  como o revalida e o médico deveria ser de qualquer nacionalidade. Por um momento, na época das manifestações, os médicos cubanos foram meio que deixado de lado, pelo menos da mídia, e fizeram uma convocação de médicos de qualquer nacionalidade. Algo que acho justo.

Não quero entrar no mérito da necessidade dos médicos, todos sabem que há diversas regiões carentes no Brasil, entretanto sabemos também que não serão só os médicos que resolverão o problema, afinal temos um problema crônico de infraestrutura no Brasil.

O que me deixa preocupado é como está se desenrolando a negociação dos médicos cubanos com o governo brasileiro. Porque precisamos contratar os médicos através do governo de Cuba e pior, por que, mesmo sem nenhum benefício claro, o governo cubano precisa lucrar com 60% desta mão-de-obra. E por que eles tem que seguir as leis cubanas em solo brasileiro, por que não podem pedir asilo no país.

Se consideramos desumano um chinês trabalhar entre 12 e 14 horas para receber uma ninharia e mesmo ele se sentindo satisfeito com isso, porque acharíamos bom um médico cubano trabalhar tanto ou mais que um brasileiro e receber menos que um brasileiro, principalmente para atingir locais mais difíceis, localidades que quando mandamos médicos brasileiros, pagamos mais caro (o que acho justo). E como achar bom existir alguém em nosso país não seguindo nossas leis e benefícios.

Os médicos cubanos dizem que vieram para ajudar e que o papel deles é assistencialista. Ora, se é para prestar assistência ao Brasil, por que Cuba precisa ficar com os 60% do que será pago a cada médico?

Acho que seria importante saber realmente qual a porcentagem dos R$ 10.000 por médico ficará com o médico e qual a necessidade para o restante do pagamento, como será utilizado, como é o contrato. Tudo que é obscuro pode gerar dúvidas e vivemos num momento em que transparência do serviço público cada vez se faz mais necessário.

[Atualização]

Já vi alguns textos como este que tratam como a contratação de serviço e não de profissionais. Se é assim, tem que seguir as regras da lei 8666/93.

Assim a lei 8666/93 diz que DEVE ser realizado licitação ou contrato por ilegibilidade, conforme art 2, o valor pago a um serviço deve ser descrito o que é dedicado a cada parte do dinheiro pago, como é empregado, conforme art. 7 alínea 2 inciso II. Se o governo considera que os médicos cubanos são “Serviços Técnicos Profissionais Especializados”, no qual a sessão IV não se refere a medicina, DEVE ser prestar concurso público, mas permite inexibilidade, art. 13 inciso 2. E lembro que na sessão V, art. 15, alínea 6 determina: Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar preço constante do quadro geral em razão de incompatibilidade desse com o preço vigente no mercado. Assim, se o governo sabe que o valor pago aos médicos é menor que aos médicos brasileiros e se não há valor agregado a prestação de serviços, pode-se contestar. Outro detalhe importante é que a administração pública não pode se beneficiar de um valor praticado abaixo do valor de mercado.

Os erros do Fora do Eixo/Mídia Ninja podem ser acertos se bem administrados e com transparência

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Apareceu na internet diversos textos e foi discutido muito essa semana os grupos (ou coletivos como gostam de ser chamados) Fora do Eixo (FdE) e Mídia Ninja (MN), esses grupos, um gerado pelo outro (FdE -> MN), depois que os porta-vozes dos grupos, os criadores Pablo Capilé e Bruno Torturrada, foram entrevistados no Roda Viva, sendo esta entrevista motivada pela cobertura dos protestos de junho e julho pelo MN.

Até o Roda Viva, não era muito claro para boa parte das pessoas, inclusive a mim, a formação da MN, qual o posicionamento político, a linha jornalística, nem como era financiado esse grupo. Pra dizer a verdade, na própria entrevista, conduzida por uma maioria composta de jornalistas da grande mídia mais preocupados com o financiamento do grupo do que como pode ser aproveitado do método jornalístico do MN pela mídia em si (isso fica evidente por o grupo se considerar independente, e isso é garantido pela origem do dinheiro – na linha de raciocínio deles -, e o MN julga a grande mídia parcial e vendida – para os grupos que financiam -, por esse motivo). Claro que o financiamento é importante, tanto que em depoimentos na internet ficou mais claro de como ele é provido, mas a presença nas manifestações, a transmissão por 3G/4G, por exemplo, que não foi considerado em boa parte da entrevista.

Não vou me estender no que foi falado em diversos textos que apareceram na internet, até para não deixar esse texto mais longo e prolixo, como a maioria, mas vou expor os pontos que eles pecam/pecaram pra demonstrar que bem organizado é possível um grupo ser independente, com um jornalismo competente e criando uma rede parecida com o do Mídia Ninja com uma estrutura melhorada do Fora do Eixo.

Método jornalístico: o uso de redes 3G/4G para o streaming é muito interessante, de dentro da manifestação, ouvindo os manifestantes, mas falta o polimento e o tratamento de imagens, condução, entre outros pontos, para não transformar a transmissão em algo caótico. Transmitir de forma bruta é o que qualquer pessoa provida de smartphone e 3G/4G pode fazer, a diferença é a informação ter o trato jornalístico. Assim é necessário que haja um switcher que junte as imagens em tempo real, possibilitando a adequada condução dos fatos, amenizando os calores de quem está muito próximo cobrindo os fatos, tendendo para um lado ou outro. Assim o condutor do switcher pode dosar os lados apresentados para ter um equilíbrio e justiça na informação transmitida.

Outro ponto importante são as matérias após as transmissões ou quando não há o que transmitir, falta ao grupo uma abordagem que inclua recursos da mídia tradicional, como crônicas, opiniões, editoriais.

Financiamento: Essa troca de farpas entre a mídia tradicional e MN sobre financiamento e independência no jornalismo é uma tremenda besteira. Se o veículo quer ser imparcial, ele é independente de quem paga. Lembro a extinta revista PC Linux, que por diversas vezes teve a Microsoft como propaganda, em nenhum momento teve mudança na postura das matérias publicadas. Ética não depende da origem do dinheiro e sim de quem o recebe.

Há formas de não depender de apenas grandes empresas para fechar as contas (afinal são jornalistas, não escravos, tem família, conta para pagar, etc) como assinaturas com preços baixos ou até mesmo o assinante escolhendo o valor do pagamento de uma anuidade. O financiamento público também é uma possibilidade, desde que tenha prestação de contas exemplar, a venda de matérias para outros veículos, como a Reuters e a Associated Media Press (AP), entre outras, praticam, crowdfunding de matérias e outras formas. Basta criatividade e bom senso.

Transparência: Ser independente exige transparência, principalmente para quem cobra dos outros ética e transparência. Ou seja, deve ser divulgado TODA movimentação financeira, com dinheiro real ou fictício (falarei mais para frente).

Moedas Fictícias: Apesar da explicação do Pablo Capilé, na qual não consegui entender nada, e dos inúmeros problemas demonstrados por vários sobre o Cubo Cards, achei a idéia, depois de entender lendo por alguém que conseguiu explicar direito, bem interessante. Se você tem uma rede multidiciplinar e num primeiro momento não consegue receber dinheiro de fato, uma moeda fictícia pode funcionar bem, caso:

  • Seja indexada com o dinheiro corrente: Para que o utilizante possa cobrar/trocar o serviço pelo valor que ele vale de verdade.
  • Que ela possa ser convertida para dinheiro em algum momento.
  • Haja oferta e procura de serviços. Se houver só jornalistas, não há interesse de uso da moeda, agora se há fotógrafos, designers, publicitários e existe a necessidade de produtos entre eles é bem viável.

Lembro que milhas, a grosso modo, é uma moeda fictícia e ela funciona (e bem) por ter esses três pontos indicados acima (no terceiro é a utilização de cartão de crédito, compra em empresas parceiras com o objetivo de juntas milhas, etc). O problema não é a moeda, é a implementação da moeda.

Valorização da produção: Quem trabalha quer ter seu trabalho reconhecido, sendo assim nada mais justo do que ter crédito nos trabalhos realizados.

Identidade jurídica única: Para um grupo ser sério tem que ter um CNPJ, alguém ou uma liderança que se responsabilize pela condução financeira do grupo.

Acho que se for seguido esses parâmetros é possível que um grupo de jornalistas consigam ser independentes, ganhar dinheiro e ter um nicho de mercado para trabalharem. O que a Mídia Ninja faz não vai substituir o jornalismo tradicional que conhecemos e não pode ser encarado desta forma.  O aproveitamento das qualidades dos modelos (tradicional, online, streaming, etc) com o tipo de cobertura a ser feita é a saída para um jornalismo de qualidade e principalmente uma grande quantidade de grupos realizando esse tipo de trabalho, afinal, mais grupos são mais pontos de vista e a principal análise de um material jornalístico não é feita por quem faz e sim por quem lê, ou seja, o leitor é fundamental na busca por diferentes pontos de vista sobre um fato para ele ter o seu ponto de vista.

 

 

Um novo leiaute, um novo blog e uma nova meta

writing

Bom, mais que realizei a meta que impus para este blog, dois posts (com este) em uma semana! Yeah!

Bom vamos às novas:

Migrei o antigo site Andboom, com conteúdo e tudo para este novo site, acho que era um fim justo para 41 posts bons que existiam lá. Daonde vem o Mushroom Labs? Bom, é um domínio que comprei para ser de uma empresa minha com meus amigos Victor Galante e Felipe Gamier, bom, era pra fazer uma app de algo que não existe na internet e um dia tenho vontade de retomar esse projeto. É inegável meu amor nerd por Super Mario Bros. e essa é a origem do nome da empresa/site.

O Andboom era um projeto meu, do Tiago Oliveira e Victor Galante que não foi pra frente e era muito focado em TI, gadgets, internet. Bom, faltou de todos comprometimento para escrever, todos trabalham e queríamos algo mais autoral, mais pensante e menos hub da internet. Este mantém esse propósito, mas sem se limitar apenas a TI, escreverei sobre o que me der na telha.

Assim nasce o novo Mushroom Labs, com um leiaute novo, leve e simples. Existe a possibilidade de até mudar para um CMS estátivo, que em experiência de sites que acesso, acho mais responsivo que o WordPress, que é o CMS que leva esse site das costas.

Assim digo, venham! Leiam! Me critiquem! Opinem para que eu tenha novos assuntos para escrever um post por semana nesse blog, minha meta.