O Brasil é um país bem característico. Tem um jeito malemolente, insolente, relaxado. É um traço da personalidade do país. Em algumas áreas, como as de criação, música e esporte, por exemplo, cai como uma luva, o brasileiro tem diferencial, brilha e demonstra suas qualidades, mas, para outras, essas características são como um pesadelo.
Somos um povo ligado em aparências, e aparências escondem uma triste realidade por baixo. Assim, em diversas áreas, as propagandas e fachadas escondem empresas que não conseguem atender adequadamente seus clientes. Não sabemos investir em infraestrutura.
Investir em infraestrutura é uma necessidade latente do nosso país. Acho que se fosse citar onde é necessário esse investimento diria: TUDO, mas temos casos em que podemos verificar de forma perceptível a qualquer pessoa: estradas, aeroportos, telecomunicações (telefonia fixa, móvel, internet, banda larga), dentre outros.
Não investir em infraestrutura significa que não sabemos nos planejar, não dimensionamos para atender a demanda atual e, pior, a futura. Não aprendemos com o passado e com os problemas que acontecem. Eles só são importantes quando ocorrem, depois viram lembrança distante. Ou seja, temos um país de bombeiros (como diria um amigo meu). O brasileiro que trabalha com áreas técnicas tem muito de bombeiro, só apaga o incêndio.
Porém, diferente dos bombeiros que inspecionam e regulam os edifícios, os sistemas de segurança, em outras áreas não temos essa sorte (e mesmo os bombeiros reais se preocupando com isso existem pessoas que não investem e surgem os incêndios reais). Não investir em infraestrutura é quase um mantra do “não vai acontecer comigo” e sempre acontece.
Sempre que prevemos algo, seja em empresa pública ou privada, somos questionados: “Se está funcionando, pra que mexer?”, ou “Pra que gastar com isso, se podemos fazer com esse dinheiro uma propaganda?” ou “Quando der problema resolveremos”. A infraestrutura é tratada como segundo plano.
Meu foco será área que domino, que sou especialista: Telecomunicações.
Telefonia fixa: O que temos de última milha (termo usado para designar a parte que compreende das centrais telefônicas até o poste) foi herdado das empresas que foram privatizadas. Falta investimento e atualização, que infelizmente só acontece quando a Anatel, órgão que regula o setor de Telecomunicações, toma medidas drásticas de interrupção de vendas de um produto, como houve em São Paulo.
Telefonia móvel: Com o crescimento do uso de celulares e recentemente de smartphones, teremos um grande problema de cobertura e garantia de serviço, pois já estamos com gargalo de demanda atual e temos eventos-chave que demandarão muito desse produto: Copa e Olimpíadas.
Faltam ERBs (estação rádio-base – as antenas que transmitem o sinal de celular) e, pior, baixa conectividade dessas ERBs em velocidade adequada com as centrais móveis, o que temos de antenas é 43 vezes inferior ao Reino Unido, por exemplo. Naquele país há uma antena instalada a cada 4km – a média brasileira é de uma antena a cada 169km. ERBs são conectadas à central por meio físico, antigamente por E1s (padrão de comunicação de 2Mbps de velocidade divididos em 20 canais de voz) e atualmente por fibra óptica, devido ao advento do 2G e, atualmente, 3G (e, num futuro próximo, espero sinceramente, 4G).
Temos leis que dificultam a cobertura adequada de fibra óptica. Além dessa dificuldade, as operadoras não investem nem na tecnologia atual, 3G, nem na futura, já que a Anatel ainda não licitou os espectros para a nova banda. Estamos há 3 anos de um evento e nem licitado o espectro foi.
Banda larga: problema interligado ao de telefonia fixa (por causa da ADSL) e móvel (3G e 4G) e pouco investimento em outras tecnologias, como cable modem, WIMAX.
O que existe hoje é de má qualidade e não suporta a demanda atual. E temos demanda reprimida. Mesmo com os incentivos governamentais da utilização de fibras ópticas apagadas da rede Telebrás e a informatização de escolas, faltam investimentos. As empresas de Telecom só focam locais onde a demanda é grande (e nem é melhorando o serviço, pois não tem qualidade satisfatória) e deixam descobertas áreas onde eles não acreditam que possa haver crescimento. Além de ceder a rede de fibra óptica, faltam aos governos maneiras eficazes de compensar o investimento em locais com menor demanda com os locais de grande demanda.
Temos um país que carece de investimentos, que gerariam empregos e mais, gerariam lucro com a venda de produtos a quem não tem ainda, e essa é uma grande necessidade, mas não investimos no presente, não planejamos o futuro e ficamos assistindo tudo como Chico Buarque ♫ Pra ver a banda passar ♫. Temos a síndrome de Zeca Pagodinho ♫ Deixa a vida me levar, vida leva eu ♫, que não nos deixa agir e assim acabamos como Vinicius num ♫ Samba de uma nota só ♫, em que os técnicos, das mais diferentes áreas, que sabem que é necessário o investimento em infraestrutura e veem os executivos das mais diferentes áreas não focar nessa necessidade.
* Revisado por Hellen Guareschi
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