Hoje faço 20 anos na mesma empresa. Eu trabalhava em uma gráfica expressa e Arlene, minha chefe na época, me falou do concurso. Me inscrevi mas não botava fé que passaria. Na verdade naquela época eu não botava fé em mim. Quando se vem de origem pobre é difícil olhar pro horizonte e se sentir confiante, que aquele pode ser o seu lugar. Eu quase não cheguei a tempo da prova. Também não estudei. Mas passei. Em 121° lugar, de 40 vagas. Não dei bola, achei que não seria chamado mas depois de um ano me chamaram.
Chegou um telegrama, com um prazo curto para me apresentar, consegui ir a tempo. A moça do RH falou que eu tinha passado, que muitos haviam desistido e pediu para eu conhecer o local antes de aceitar a vaga. Era num aterro sanitário. Muitos desistiram da vaga por causa disso.
Foi um parto ir e visitar. Aceitei e trabalhei lá um ano, acabou o contrato e essa função, operador de terminal. Depois fui para a área de microinformática, atendimento externo na região sul. Mais um ano, depois fui no laboratório de microinformática, mais dois anos.
Ai essa área acabou e fui para Telecom. De técnico fui treinee, de treinee virei analista. E estou até hoje.
20 anos parece muito, mas fiz muita coisa diferente, áreas diferentes, gerentes diferentes, momentos políticos diferentes. Talvez por não me encarar como no mesmo lugar e fazendo as mesmas coisas que eu tenha durado tanto tempo.
Vejo que cheguei na fase que me sinto mais experiente. Devo muito aonde trabalho mas também tenho total noção dos meus méritos e da minha capacidade. Envelheci. Amadureci. Cresci. Sinto falta dos momentos mais tranquilos e de menos responsabilidade, mas guardo eles como eu guardava minha infância quando eu era recém adulto. Aquele gosto de saudade com sensação de que sou grande demais para aquele tempo.